segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu teria um desgosto profundo, se faltasse o Flamengo no mundo

Ok, futebol realmente não é muito a minha praia. Se alguém, por exemplo, me pedir a escalação do Flamengo, certamente passarei vergonha. Tirando alguns jogadores mais famosos, como Adriano ou Petkovic, não consigo gravar a escalação e os nomes, fruto de alguma limitação ou mesmo falta de conhecimento e de interesse pelo cotidiano do time. A questão é que o que me importa mesmo são os resultados, é o time em campo. Nunca me interessaram as questões táticas, treinos e afins, tirando, claro, em ocasiões pontuais. Mas isso tampouco é um sinal de um, amor desinteressado. Pelo contrário, a questão é que não sou o que poderia se chamar de um torcedor fanático, entendo que há coisas além disso, mas o sentimento realmente existe. Torço de suar bicas, de ficar nervoso, tenso e mal humorado se for o caso de uma derrota; e exultante, eufórico e orgulhoso, numa vitória.
O Flamengo é uma das poucas coisas que desperta em mim aquele estranho sentimento de pertencimento, tão caro ao patriotismo (que pode revelar os mais sombrios sentimentos humanos, mas isso já é outra história). Aquele em que nos sentimos parte de algo grandioso, seja de uma torcida colossal (que impressiona tanto por sua grandeza quanto por sua força), ou de um time com uma trajetória grandiosa, marcada por glórias e também por derrotas, claro.
Esse é o Flamengo, um time popular sim, e que não se envergonha disso. Um time tão grande e tão diverso quanto o Brasil. Um time que desperta amor e ódio.
Ontem, o Flamengo desperdiçou, num Maracanã lotado, a chance de assumir a liderança do campeonato, num empate frustrante, com gosto de derrota, para o Goiás. O que poderia ser o passo decisivo para a conquista do hexa, não foi devidamente aproveitado, e continuamos com isso, dependendo de resultados. A sorte está novamente lançada. O Flamengo pode ser campeão, ou não. Mas independente disso, fez uma campanha digna de sua grandeza, mostrando a todos que ele e sua torcida são maiores e mais fortes que qualquer crise. Pode de fato, ter sérios problemas financeiros e políticos, mas ainda assim provou que é capaz de superá-los, mesmo que por um momento; mostrando toda a sua força, honrando sua história, com a indispensável ajuda de sua fiel torcida. Isso me faz lembrar uma charge do saudoso Henfil, em que aparece a torcida rubro-negra empurrando o jogador até o gol adversário, numa bem humorada alegoria da força da massa. Acima de tudo, com vitória ou sem vitória, fica o orgulho e o amor incondicional.
Enfim, esse não é o comentário apurado e frio de um especialista no futebol, de um profundo conhecedor das táticas e das regras desse esporte tão apaixonante; é apenas a singela visão e opinião de um torcedor apaixonado; que xinga, chora e vibra.

Vamos Flamengo!
Continue lendo >>

domingo, 8 de novembro de 2009

É que Narciso acha feio o que não é espelho*

A campanha presidencial de 2010 promete. Nunca estive tão ansioso para que começasse, será certamente a mais divertida dos últimos tempos. Digo o óbvio; mas já tivemos uma pequena amostra de como o nível será baixo. As últimas semanas foram movimentadas, eu sinceramente me diverti muito, seja lendo o artigo do Fernando Henrique ou as linhas toscas de Caetano Veloso. O Caetano, pra quem já o conhece, virou uma espécie de polemista, atacando a tudo e a todos (ele e o Lobão se merecem). Claro que sempre com o objetivo primeiro de se auto promover, porque afinal, ser polêmico é o que dá ibope.
Mas certamente, nem o próprio Caetano leva a sério as besteiras que fala. Ele deveria fazer como o Chico Buarque, e não ficar se metendo em assuntos que não conhece. Sejamos honestos, chamar o presidente de inculto, analfabeto, caipira, simplório... virou lugar comum. As pessoas proferem coisas como essas quase que automaticamente, e não param pra pensar que ao contrário de ser verdade, isso denota muito mais, um ranço preconceituoso. Ninguém minimamente sério, considera mais esse tipo de ataque. Bem sabemos que inteligencia não está necessariamente ligada ao grau de escolaridade. Exemplos disso não nos faltam. Aliás, denecessário dizer que o Lula não é analfabeto, e se mostrou inclusive, muito mais capaz do que seu antecessor na condução de um governo. Internacionalmente, por exemplo, o Lula é muito mais respeitado e admirado, do que o foi Fernando Henrique, em seus oito anos de mandato. Fato. O que também não significa que ele tenha feito um governo perfeito nesses últimos anos. Cabe sim muitas críticas, mas em geral o que se vê são ataques pessoais sempre resvalando no preconceito puro e simples. O único prejudicado, como se vê, certamente não é o Lula, mas sim, a própria oposição, que só prova com isso, a ausência de um projeto de sucessão sério e consistente que leve todo um país em consideração e não mais setores privilegiados da sociedade.
O Brasil não é mais o que deseja São Paulo. As pessoas querem ser representadas, e vêem isso, na figura de Lula. Seja por sua origem, seja também pelo o que seu governo deixará como legado. Ou seja, uma quebra de paradigma, num cenário onde essas pessoas nunca se sentiram realmente inseridas. Esse Brasil incômodo e simplório quer ter voz também, e embora isso ainda esteja longe do que poderíamos considerar ideal, não há como ignorar que as coisas estão mudando.
Caetano ao falar de forma agressiva do suposto analfabetismo de Lula, tinha apenas por objetivo, vender seu mais novo trabalho. Fernando Henrique, em seu artigo, prova que além de sofrer de memória seletiva, também age de má-fé, ao justificar a popularidade do presidente como sendo um sinal de "autoritarismo popular". A oposição, sem muitos meios pelos quais opor-se a Lula, se utiliza largamente desse expediente baixo, ou seja, acusar o presidente de ser um pretenso tirano. Para essa gente rançosa e preconceituosa, o povo quando não vota nos candidatos que representam seus interesses elitistas; ou vota mal, ou é manipulado, como uma massa de manobra. Pois bem, para essas pessoas, cabe bem aquela frase de Millor Fernandes que diz: "Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim."

*Trexo de Sampa, de Caetano Veloso; e o quadro Narciso, de Caravaggio. Compostos, ambos são uma perfeita definição de Fernando Henrique Cardoso.
Continue lendo >>

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobre a estupidez humana

A onda (Die Welle), produção alemã de 2008, é uma refilmagem de The Wave, EUA 1981, que por sua vez foi baseada em uma história real ocorrida em uma escola da Califórnia em 1967. A versão alemã, é ligeiramente diferente da americana (totalmente baseada no episódio), mas a mensagem é a mesma e pertubadora.
No filme, o professor Rainer Wegner, ministra um curso sobre autocracia para uma turma apática e desinteressada. Os alunos - produtos dos novos tempos, vivendo num regime fortemente democrático, e desejosos por ignorar um passado infame - veem o conteúdo da matéria como algo distante da sua realidade; e não concebem que regimes totalitários podem vir a ser parte de seu cotidiano.
Pois bem, consciente disso, o professor na tentativa de conquistar o interesse desses jovens e de mostrar na prática como funciona um regime autocrático, resolve propor uma experiência radical aos seus alunos. Assim, segundo a proposta do professor, no decorrer de uma semana, a sala de aula se transformaria numa espécie de microcosmo de um regime autocrático, inspirado no caso nazista.
O filme trasncorre, portanto, respeitando essa linha temporal de uma semana, onde as experiências de um regime autocrático são "experimentadas"; incluindo todos os elementos dignos desse tipo de governo, como: um nome para o movimento, um líder carismático, um símbolo, forte disciplina, uniformização e até saudação própria. O experimento, porém, sai totalmente do controle do professor (aliás, o lider), e extrapola perigosamente os limites da sala de aula.

Enfim, a película mostra não só o quanto o professor foi irresponsável ao propor tal experimento, como também os perigos tanto da tentativa de esquecimento de um passado pertubador, quanto do apelo sedutor dos regimes autocráticos (o que costuma ser ignorado); onde o carisma é marca registrada, evidenciando também, a capacidade que tais regimes tem de mexer com o imaginário das pessoas, proporcionando adesão e apoio em massa.
Continue lendo >>

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Quinta-coluna*

Que a mídia brasileira é reacionária quase em sua totalidade, não é novidade pra ninguém. Que se auto proclama como uma espécie de arauto da moralidade e da ética brasileira, dizendo-se imparcial quando na verdade a imparcialidade é uma ilusão, se proclamando como inquestionável e destilando pedantismo e arrogância; é chover no molhado, dizer o mais do mesmo. Mas a posição da mídia, sempre escamoteada pela falsa aura de protetora das liberdades e de uma suposta democracia, as vezes deixa transparecer sua verdadeira face. Dizendo enfim ao que veio. A democracia para estes, é uma linha muito tênue entre os interesses que defendem e o que realmente é do interesse público. Melhor, eles misturam os dois e passam a considerar aquilo que defendem como de interesse geral. Um ardil eficientíssimo. Ou seja, devem seguir aquela premissa de que, democracia é quando eu mando.
Nada disso é novidade. Mas um episódio recente, nos mostrou com bastante clareza que a mídia nativa na verdade não está tão preocupada assim com a democracia no mundo. Isso claro, desde que no poder esteja alguém que compartilhe sua visão de mundo. As alternativas, são sempre mal vistas e devem ser devidamente defenestradas. Não é de se espantar assim, que a crise em Honduras tenha se transformado na mais nova trincheira da mídia nacional contra o governo Lula, que ela tanto odeia. No caso de Honduras, tentou-se a todo custo, desacreditar a posição do Itamaraty e do governo brasileiro com relação ao abrigo dado ao presidente deposto, Manuel Zelaya, pela embaixada brasileira naquele país. A fúria da imprensa nacional inclusive, se mostrou em desacordo com a posição de todos os países e órgãos internacionais, que não reconheceram o governo golpista de Micheletti e deram apoio a iniciativa brasileira.

Nesse ponto é interessante constatar, que a imprensa nacional passou a dar chancela a um governo golpista e impopular, criticando a posição brasileira de abrigar em sua embaixada, o presidente legítimo, que havia sido deposto de forma covarde e totalmente ilegal. Como uma espécie de estratagema, se falou inclusive em "golpe brando" ou mesmo "democrático"; dada a impossibilidade de descartar o incomodo e constrangedor fato de que realmente houve um golpe (e isso não podia, por mais que desejassem, ser ignorado). Isso porém é um absurdo. Não existe golpe democrático ou brando, isso é puro malabarismo criado para atenuar uma posição insustentável de um setor da sociedade que se considera guardião da democracia, e portanto, falar em golpe puro e simples, pegaria muito mal para a imagem que tentam passar. O perigo é que certas palavras na boca de certos indivíduos (tidos como badalados intelectuais midiáticos), se tornam sem qualquer questionamento, verdades inabaláveis.
Mas sim, Honduras é governada por uma ditadura, quer queiram quer não, com direito inclusive à Ato Institucional, que cerceia as liberdades e confere super poderes às autoridades policiais e governamentais. Entre repressões à manifestações, prisões e fechamento de emissoras de oposição ao golpe; há quem ainda tenha a cara de pau de considerar isso um golpe democrático. Mas enfim, se essa é a opinião de Arnaldo Jabor, um analista de credibilidade, que não se baseia apenas em hipóteses e suposições, com sua opinião sempre isenta; então quem sou eu pra discordar.
Ficamos agora à espera do próximo ato. Pois a culpa é sempre do Lula mesmo.

*O termo Quinta-coluna é creditado à um general franquista, que durante a Guerra Civil Espanhola, teria se utilizado deste quando da investida contra Madrid (em poder das forças republicanas). O cerco à capital espanhola contava então, com quatro colunas nacionalistas. Todavia, para o general, havia em Madrid uma espécie de quinta-coluna, formada por simpatizantes dos nacionalistas. O termo, no entanto, sobreviveu à guerra civil, e acabou se consagrando como uma forma de indicar a presença de elementos desestabilizadores dentro de uma sociedade.

Continue lendo >>

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A glória e a infâmia

por Mino Carta

Há coisas do Brasil louvadas mundo afora, e não me refiro às ações da Petrobras e da Vale. Falo do refúgio dado pela embaixada brasileira em Tegucigalpa ao presidente José Manuel Zelaya. Há coisas do Brasil verberadas País adentro. Falo da mesma posição que o resto do planeta aprecia e que já começa a provar seu acerto.
Coisas nossas, diria o sambista. Típicas. Clássicas. Com raras exceções, a mídia nativa condena irreparavelmente o presidente Lula e o Itamaraty, réus por terem garantido abrigo a um presidente deposto por mais um golpe de Estado nesta América Latina ainda tão distante da contemporaneidade.
Ou, se quiserem, de um ideal de contemporaneidade. Na situação, o mundo anda na contramão no confronto com a mídia nativa, aquela que Paulo Henrique Amorim, companheiro de muitas jornadas, denominou de PIG, Partido da Imprensa Golpista. Que a ideia do golpe a inspira e a atiça é indiscutível. Passou sete anos de governo Lula a cultivar a esperança do impeachment. Do mensalão aos pacotes de reais empilhados no vídeo da Globo. Até o risível episódio do pretenso conflito entre a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e dona Lina Vieira, ex-Receita Federal.
Tudo serve ao propósito de minar o pedestal governista. No momento, trata-se de explorar a questão hondurenha. Candentes aos editoriais, ainda redigidos no tom, na letra, no conteúdo, no mesmo estilo que os caracterizava, começos dos anos 60, ao invocar o golpe enfim desfechado pelos carabineiros dos inextinguíveis donos do poder no final de março de 1964.
O tempo passa, e o pessoal não arreda pé do seu ideário. Ninguém se queixa se o monstruoso desequilíbrio social permanece e se o governo Lula fez pouco para avançar na direção de uma igualdade, indispensável, aliás, à realização de um capitalismo sadio e regrado. Enfurecem-se, porém, se o chanceler Celso Amorim autoriza nossa representação em Honduras a hospedar a vítima do golpe. E se Zelaya for amigo de Hugo Chávez, e se ele próprio curtir um sonho bolivariano, o que isso muda?
Observe-se que Lula tomou em relação a Chávez, e às suas particulares reminiscências e evocações de Simón Bolívar, comportamentos cautelosos. Astutos, até. O presidente do Brasil fia-se, com toda razão, nas perspectivas do futuro e na realidade do presente, e sabe que qualquer desenho chavista não atinge o País.
Que esperar da mídia nativa? É sintomático seu passadismo. Simbólico. E nada mais representativo do atraso de quem no Brasil se instala no topo da pirâmide do que a revista Veja, “última flor do Fascio”, segundo o já citado Paulo Henrique. Sintomática a sua larga tiragem, a apinhar a entrada dos espigões burgueses. A não ser que seja encarada como manifestação da vocação humorística verde-amarela. A última edição da revista da Abril supera os momentos mais inspirados da célebre Mad. O mundo se curva.
Fiquei em dúvida. Trata-se de interpretação satírica, ou de acusação ao vivo e a sério? De quem seria o imperialismo megalonanico do sinistro passarinho dentuço apresentado na capa da última edição se não o do Brasil de Lula? Tadinho, recém-saído do ovo... Se a metáfora não resulta de uma irresistível veia cômica, onde se abrigaria? Na embaixada brasileira em Tegucigalpa?
E no outro dia Paulo Henrique me disse que o PIG está na mão de três famílias: Marinho, Frias e Mesquita. Surpresa: Mesquita? Respondeu: “Arrendaram a fazenda para ficar com a casa-grande”. Voltei à carga: “E os Civita?” Sentenciou: “Detrito da maré baixa”.
Continue lendo >>

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Brasil de Lula é inimigo do golpismo

Jornal, O Globo por Elio Gaspari

Lula disse bem: “O Brasil não acata ultimato de governo golpista. E nem o reconheço como um governo interino (…) O Brasil não tem o que conversar com esses senhores que usurparam o poder”.
Os golpistas hondurenhos depuseram um presidente remetendo-o, de pijama, para outro país, preservam-se à custa de choques de toque de recolher e invadiram emissoras. Eles encarnam praga golpista que infelicitou a América Latina por quase um século.Foram mais de 300 as quarteladas, uma dúzia das quais no Brasil, que resultaram em 29 anos de ditaduras. Na essência, destinaram-se a colocar no poder interesses políticos e econômicos que não tinham votos nem disposição para respeitar o jogo democrático.
Decide-se em Honduras se a praga ressurge ou se foi para o lixo da história. Nesse sentido, o governo de Nosso Guia tem sido um fator de estabilidade para governos eleitos democraticamente.Se o Brasil deixasse, os secessionistas de Santa Cruz de La Sierra já teriam defenestrado Evo Morales. Lula inibiu a ação do lobby golpista venezuelano em Washington. Se o Planalto soprasse ventos de contrariedade, o mandato do presidente paraguaio Fernando Lugo estaria a perigo.
Para quem acredita que a intervenção diplomática é uma heresia, no Paraguai persiste a gratidão a Fernando Henrique Cardoso por ter conjurado um golpe contra Juan Carlos Wasmosy em 1996. Em todos os casos, a ação do Brasil buscou a preservação de governos eleitos pela vontade popular.
No século do golpismo dava-se o contrário. Em 1964, o governo brasileiro impediu o retorno de Juan Perón a Buenos Aires obrigando-o a voltar para a Europa quando seu avião pousou para uma escala no Galeão.
A ditadura militar ajudou generais uruguaios, bolivianos e chilenos a sufocar as liberdades públicas em seus países. (Fazendo-se justiça, em 1982 o general João Figueiredo meteu-se nos assuntos do Suriname, evitando uma invasão americana. Ele convenceu o presidente Ronald Reagan a botar o revólver no coldre. Nas suas memórias, Reagan registrou a sabedoria da diplomacia brasileira).
O “abrigo” dado ao presidente Manuel Zelaya pelo governo brasileiro ofende as normas do direito de asilo. Pior: a transformação da Embaixada do Brasil em palanque é um ato de desrespeito explícito. Já o cerco militar de uma representação diplomática é um ato de hostilidade.Fechar a fronteira para impedir a entrada no país de uma delegação da OEA é coisa de aloprados. A essência do problema continua a mesma: o presidente de Honduras, deportado no meio da noite, deve retornar ao cargo, como pedem a ONU e a OEA.
Lula não deve ter azia com os ataques que sofre por conta de sua ação.Juscelino Kubitschek comeu o pão que Asmodeu amassou porque deu asilo ao general português Humberto Delgado. Amaciou sua relação com a ditadura salazarista e, com isso, o Brasil tornou-se um baluarte do fascismo português.Ernesto Geisel foi acusado de ter um viés socialista porque restabeleceu as relações do Brasil com a China e reconheceu o governo do MPLA em Angola.
As cartas que estão na mesa são duas: o Brasil pode ser um elemento ativo para a dissuasão de golpismo, ou não. Nosso Guia escolheu a carta certa.
Continue lendo >>

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Honduras, Arnaldo Jabor e o debate político brasileiro

O jogo político é algo no mínimo intrigante, todos falam em nome da ética, da honestidade e em defesa da democracia. Mas o que não se diz (e isso vale mesmo para os realmente honestos), é que antes de tudo isso, estão as convicções políticas, quais os ideais que norteiam certo político, por que estar nesse partido e não no outro, livre mercado ou um estado protecionista e por aí vai.
Enfim, nada mais normal. Daí temos a oposição de ideias tão saudável e natural num sistema democrático, embora sempre espinhoso. Mas como dito lá em cima, todos querem parecer os arautos da democracia, quando na verdade de forma sutil ou não, muitos desses (e não me refiro à totalidade, claro) em dadas situações, acabam traindo aquilo que dizem zelar, ao defender, ou ao menos não condenar (pelo menos, com o mesmo vigor que usariam para condenar o que lhes é ideologicamente oposto), ataques gritantes a democracia. Aí impera a política do dois pesos e duas medidas. A análise política nesses casos, passa a ser um ato quase de subjetividade, onde cada um vê o que quer, interpretando os fatos como melhor lhe convém. A questão é que não podemos a partir disso, justificar ou ignorar injustiças, somente porque "fulaninho" não me é agradável.
A introdução um tanto longa, serve para dar conta de uma prática comum e tendenciosa de políticos e da imprensa nacional - exemplificado aqui, na palavra e na figura de Arnaldo Jabor. Ontem, assistindo ao Jornal da Globo, fiquei impressionado (como se isso ainda fosse possível) com a sua desfaçatez e seu discurso hipócrita no que diz respeito ao golpe em Honduras. Tendencioso e escorregadio, quase beirando ao inacreditável, ele começou sua fala alegando ser antes de tudo contrário ao golpe. Porém, logo em seguida começou um discurso em que dizia que o golpe em Honduras, não foi aquele típico golpe latino americano do tipo, "porrada e fuzis" (as últimas notícias o desmentem); foi antes de tudo, em suas palavras, uma espécie de “golpe brando”, com a chancela da Suprema Corte, de parte do congresso e da Igreja (o que segundo o mesmo, daria alguma aura de legitimação).
Mas Jabor não cita, por exemplo, que o presidente foi surpreendido de madrugada em sua casa, por militares armados; sequestrado e mandado para fora do país. Claro, não é preciso comentar que esse é um ato totalmente ilegal e arbitrário. Além do que, o caro comentarista, simplesmente ignora o fato de que a população não apoia o golpe. Mas afinal, qual a importância do povo numa democracia, não é mesmo Jabor?
Chega ao absurdo de dizer que esse seria, "um golpe democrático" (lembremos que os militares brasileiros que deram o golpe em 1964, se utilizaram do mesmo expediente). Partindo sempre para o campo das hipóteses, ou pra quem preferir, da "futurologia", insinua que Zelaya teria a pretenção de se perpetuar no poder, a exemplo do que infelizmente parece querer o Chavez. Aliás, para a análise rasteira de Jabor, apenas o fato de Chavez (que vamos combinar, adora um holofote) apoiar a volta de Zelaya ao poder já indicaria essa pretenção. Aí ele praticamente bate o martelo. Mas como Jabor não é bobo, deixa tudo no campo do possível. Como não há provas contra para apresentar, prefere levantar hipóteses, jogá-las ao ventilador. Mas em momento algum fala a respeito dos golpistas e dos que os apoiam. E afinal, qual seria a reação de Arnaldo Jabor, se o congresso da Colômbia apoiasse um golpe contra Uribe por sua tentativa de aprovar uma segunda reeleição?
O que ele não comenta, e parece querer ignorar, é que consulta popular não é ilegal nem estranho à democracia; mas o golpe sim. E vamos concordar que o apoio de parte do Congresso e da Suprema Corte é no mínimo nebuloso, é absurdo derrubar um governo, porque este pretende fazer uma consulta pública. Isso sim é antidemocrático. E mais, o objetivo da consulta (que se daria concomitantemente à votação para presidente) tinha por objetivo, saber se a população concordava ou não, com a convocação de uma Assembléia Constituinte, objetivando uma reforma constitucional, onde uma das modificações, seria a possibilidade de reeleição presidencial. Desnecessário dizer portanto, que Zelaya não se beneficiaria do direito a reeleição. Lembremos, no entanto, que Fernando Henrique Cardoso, sem consultar os brasileiros, modificou nossa constituição com todo o apoio da forte base governista (a qual ele teve por todo o seu mandato), afim de incluir a reeleição presidencial, até então inexistente na nossa carta. Tudo isso feito sem maiores estardalhaços. Hipocrisia pouca, é bobagem.
Enfim, pra finalizar, a exemplo de Jabor, poderíamos fazer algumas perguntas bastante pertinentes, como por exemplo:
  • Quem são e que interesses norteiam os golpistas e seus simpatizantes?
  • Um golpe pode ser considerado democrático, mesmo sem o apoio popular?
  • Um golpe pode ser considerado mais legítimo do que uma consulta popular?
  • Por que os golpistas atentam contra as liberdades democráticas, como o direito a manifestação e a liberdade de imprensa, já que lá estão, para defender a própria?
  • Por que o Brasil que nunca apoiou o golpe, reconhecendo apenas Zelaya como o legítimo presidente de Honduras, não deveria dar asilo ao presidente deposto, assumindo uma posição covarde de lavar-as-mãos e fugir da questão?
Na verdade, Arnaldo Jabor fica o tempo todo em cima do muro (se é que podemos falar nisso), diz não apoiar o golpe, mas ao mesmo tempo tenta justificá-lo, numa espécie de apoio tácito. Só prova com isso, o quanto é desonesto, debochado e cara-de-pau. Acha que sabe de tudo, porém fala tão bem de política quanto de filmes na festa do Oscar.
Continue lendo >>

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brasil concede abrigo a Zelaya em Honduras

Zelaya na representação brasileira em HondurasMais um personagem entra na trama complicada que envolve o golpe militar em Honduras, ocorrido em 28 de junho desse ano. O Brasil que até agora era um ator apenas coadjuvante, não mais que de repente, se tornou peça central da trama ao conceder abrigo em sua embaixada, em Tegucigalpa, capital de Honduras, ao presidente deposto, Manuel Zelaya.
Impedido pelos militares de voltar para o país, Zalaya teria viajado durante 15 horas, contando com diferentes meios de transporte, para chegar em anonimato à capital e pedir asilo na representação brasileira. As próprias autoridades brasileiras teriam sido surpreendidas pela presença de Zelaya, tendo o responsável pela representação (que está temporariamente sem embaixador) ligado para o chanceler Celso Amorim afim de comunicar a presença do presidente deposto e o seu pedido de abrigo, imediatamente concedido; visto que o Brasil o reconhece como o único presidente legítimo daquela nação. Com a notícia da presença de Zelaya na chancelaria brasileira, milhares de pessoas acorreram para o entorno da embaixada em apoio ao presidente.

Como reação, o governo interino, que sofre com o isolamento continental consequente do não reconhecimento pelas nações da Organização dos Estados Americanos (OEA), pediu o repatriamento imediato de Zelaya ao governo do Brasil e decretou toque de recolher, no intuito de impedir que a presença do presidente deposto se torne um incentivo maior para as manifestações populares. O que não surtiu muito efeito, pois muitos seguidores ainda continuaram ao redor da embaixada, num claro ato de oposição e desobediência ao governo interino.
A posição do Brasil para além dos que a criticam é legítima e lógica. O Brasil não está, ao contrário do que diz o governo interino, fazendo ingerência nos assuntos internos, e não há nada de ilegal no ato de conceder asilo. Conceder abrigo em embaixadas é algo até comum nas relações internacionais. A verdade, é que o governo golpista foi pego de surpresa, sabe que a presença do presidente deposto é um golpe inesperado na tentativa de busca da legitimidade, sobretudo com a população. Não podendo ser preso ou capturado, pois se encontra em território internacional, Zelaya se utiliza disso para em segurança, mandar o recado para o seus seguidores, de que não está vencido e que não desistiu de lutar pela restituição de seu governo.
Ao que parece, na minha modesta opinião, por mais delicada que seja a situação, os perigos para o Brasil são nulos; primeiro pela quase inexistente projeção de Honduras no cenário internacional, segundo que para piorar, o governo que lá está, não é reconhecido nem pela OEA e nem pela ONU, ou seja, não têm qualquer base de apoio internacional (quer seja político, quer seja financeiro). E mesmo considerando-se um quadro extremo, onde a embaixada poderia ser invadida; seria esta na verdade, uma decisão gravíssima de violação do direito internacional, um ato de guerra, o qual obviamente, eles não podem se dar ao luxo de cometer.
Continue lendo >>

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Uma nação de loucos

Obama vai pegar vocês!!!Às voltas com a aprovação das diretrizes que vão reger o novo plano de saúde, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ainda têm que lutar contra a preconceituosa oposição direitista republicana. Não há dúvida, que à parte a cobertura tímida e constrangida da imprensa mundial, parece que os protestos que vem mobilizando essa oposição - indisfarçavelmente racista - ao novo plano de saúde, não provocam a consternação que deveriam provocar. Talvez porque eles afinal estejam se utilizando do seu direito à liberdade de expressão. Coisas da democracia (!?). Mas para tudo há limites, e quando pessoas se manifestam com o claro intuito de denegrir a imagem de alguém com mentiras absurdas - acusando-o de comunista, nazista (e é possível ser os dois ao mesmo tempo?!), anti-cristo, a favor da eugenia e tantas outras impropriedades - acho sim que aí, os limites foram extrapolados e muito. Ao se espalhar mentiras tão inacreditáveis (e eu próprio me pergunto se essa gente leva à sério o que diz) o foco acaba mudando, se perdendo do necessário debate político e indo para o campo da baixaria e das acusações doentias e bizarras. Enfim, me parece claramente, que há uma campanha não de simples oposição à uma medida ou posição do presidente, mas sim de desestabilização do governo, com ataques covardes e sem pé nem cabeça.
É necessário explicar certos aspectos dessa proposta. Em resumo, temos hoje nos Estados Unidos um sistema dos mais dispendiosos do mundo, onde apenas idosos e deficientes recebem cobertura do governo. Ao resto da população, sobram os planos de saúde privados. Os altos preços desses planos e o número crescente de americanos não cobertos nem pelo governo e nem pelos planos privados, demonstra a deficiência desse sistema injusto e desigual. A ideia portanto, é democratizar o acesso a esse sistema, com o governo americano oferecendo um plano subsidiado como alternativa aos planos particulares. Assim, o governo espera que a competição faça com que os planos particulares baixem os preços de suas mensalidades. Na minha sincera opinião, a proposta de Obama é boa, senão necessária. não é uma aventura Obamista (seria uma nova ideologia para o socialismo do século XXI?!) em direção à revolução bolchevista e nem tampouco, é inédita. Se essa direita raivosa já chama Obama de socialista por conta dessa nova proposta, imagine o que não devem pensar do vizinho, Canadá.
É, essa gente mais parece um bando de lunáticos, teóricos da conspiração, que acabaram de fugir do manicômio, além claro, de terem provavelmente matado todas as aulas de história na escola.
Continue lendo >>

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Leigo

por Luis Fernando Veríssimo

“Leigo” é o nome genérico de quem não está entendendo. Na sua origem “leigo” era sinônimo de “laico”, o contrário de “clérigo”, um cristão que não pertencia à hierarquia da Igreja. Com o tempo a palavra passou a identificar quem está por fora de qualquer assunto, e não apenas os eclesiásticos. O Leigo é mal informado, ingênuo e simplista. As coisas precisam ser explicadas com muita clareza ao Leigo, e mesmo assim ele custa a compreendê-las. Ele próprio costuma invocar sua condição e dizer “Sou leigo na matéria” quando se vê diante de um desafio intelectual. Diz muito isto. Porque tudo é um desafio intelectual para o Leigo. Mas o Leigo nos presta um grande serviço. Como seu raciocínio é simples, ele muitas vezes faz as perguntas óbvias que nós não fazemos para não parecermos simples. Há anos, por exemplo, não entra na cabeça do Leigo por que as tais “riquezas naturais” brasileiras de que ouvimos faltar desde a escola não enriqueceram o Brasil, ou pelo menos melhoraram a vida da maioria dos brasileiros, que, ao contrário, parece piorar quanto mais as riquezas são extraídas e exportadas. O Leigo nunca entendeu a venda, que mais pareceu uma doação, da Vale do Rio Doce, como nunca entendeu a campanha antiga e sistemática para desacreditar e doar a Petrobras. Agora o Leigo – na sua ingenuidade – não está entendendo essa discussão sobre o controle estatal do petróleo do pré-sal e o destino a ser dado ao produto da sua exploração, como se não estivesse na cara o que precisa ser feito. No plano internacional, o Leigo imagina que se todo o dinheiro gasto no comércio de armas fosse aplicado em projetos sociais, acabaria a miséria no mundo. Você e eu, que somos pessoas sofisticadas e por dentro, sabemos que o mundo não funciona assim, com esse altruísmo simétrico. Que se não gastasse com armas o mundo só gastaria em bebida e mulheres. E essa de que um país com os problemas sociais do Brasil não tem nada que estar comprando submarino atômico só pode ser coisa do Leigo. Bendito Leigo.

DUNGA

No Brasil, como se sabe, ninguém é leigo em futebol. Todos são clérigos, ninguém é laico. Mas os últimos sucessos da seleção criaram uma cisão entre os eclesiásticos com relação ao Dunga. Há os que os fatos obrigaram a aceitá-lo, e os que nada os fará aceitá-lo, muito menos os fatos.
Continue lendo >>

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Como testar a paciência do cidadão

O usuário das Barcas, segundo os que a controlam!Todos sabemos que a polícia brasileira é uma polícia patrimonialista. Para dar um exemplo cabal e bem recente disso, vou falar do caso das BARCAS S.A., concessionária que faz a ligação, via Baía de Guanabara, do Rio com Niterói. Pois bem, essa empresa, que é o exemplo de descaso e abuso com o cidadão, obriga seus usuários, sobretudo nos horários de pico, a se espremerem nas estações lotadas e nas embarcações. Como se não bastasse isso, o preço da passagem aumentou de R$2,50 para R$2,80; sem claro, qualquer melhora no serviço.
A coisa continuará assim, pois não há concorrência, e inclusive há pelo menos uma linha de ônibus, ligando Rio-Niterói, que também é do mesmo dono das Barcas (a Viação 1001). Acontece que, como normalmente nesse horário de pico as estações já ficam abarrotadas de gente, mais parecendo uma lata de sardinha, basta atrasar para que aquilo vire uma verdadeira sucursal do inferno, com filas inimagináveis e claro, muita contrariedade e dor de cabeça para o pobre do usuário.
Foi assim q se deu a revolta meses atrás, e ao que parece, o clima não anda muito bom ultimamente. Tanto que já até vi por esses dias, policiais fazendo guarda nas catracas da estação. Estavam lá, os homens da lei, com seus cassetetes, prontos para impor a ordem, apostos para zelar pela inviolabilidade do patrimônio privado, olhando para os usuários (aqueles que realmente precisam ser protegidos de tantos abusos) com cara de poucos amigos, como se fossem estes, verdadeiros bandidos.
A falta de compromissos, os abusos e inclusive a arrogância dos diretores da concessionária - que parecem querer testar a inteligência do cidadão, dando declarações que beiram ao deboche - são de conhecimento geral. Ainda assim, mesmo sendo essa uma concessão pública - o que em tese deveria implicar uma séria fiscalização por parte do governo, no caso estadual - não vejo por parte das autoridades, medidas punitivas de fato sérias e concretas em relação à essa empresa. Ainda assim, muito pouco se faz. O descaso do poder público favorece a má conduta dessa empresa, permitindo que eles se dêem ao luxo de continuarem a desrespeitar seus passageiros.
Porém, basta o cidadão que vive esse tormento diariamente se revoltar, para que a tropa de choque da polícia apareça rapidamente, com todo o seu carinho habitual, prontos para conter a turba.
Polícia para quem precisa!
Continue lendo >>

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Quando a Espanha sangrou

Nesse ano se completam 70 anos do fim da Guerra Civil Espanhola. Assunto que sempre me despertou bastante interesse, seja por sua aura romântica - típica de um período marcado pelo embate de ideologias - seja pela dimensão internacionalista que ela ganhou desde o seu início; guerra esta, que acabou por arrebanhar combatentes e corações de diferentes partes do mundo, tanto de um lado do conflito como do outro. O conflito se iniciou com o malogrado golpe, ou pronunciamiento, de 17 de julho de 1936, onde setores amotinados do Exército se rebelaram contra uma República democraticamente eleita, com um forte apelo popular, que tentou implementar medidas como a reforma agrária, a separação do estado da Igreja, as reforma educacional e trabalhista. Os militares rebeldes liderados pelo generalíssimo, Francisco Franco, empreenderam o que eles próprios chamaram de uma grande cruzada (com toda a carga simbólica e histórica que tal palavra nos trás), para defender os valores de uma suposta hispanidade contra o "mal comunista".
Com o fracasso do golpe militar, porém, se iniciou uma cruel guerra civil que se arrastaria por mais 3 anos, dividindo o país e ceifando centenas de milhares de vidas. O conflito, grosso modo, opôs uma Espanha tradicionalista, com fortes ligações com a religião católica e saudosa de um passado glorioso de conquistas e opulência; com uma Espanha tida como progressista e/ou revolucionária (nesse campo com diferentes interesses e grupos em disputa, como liberais antifascistas, anarquistas, comunistas, socialistas).
Esse grande conflito é muito lembrado como, "a última grande causa da humanidade"; o que apenas denota toda a carga emocional e as paixões que despertou e mobilizou e que sem dúvida, continua mobilizando. Ou seja, duas concepções totalmente antagônicas de mundo se chocaram, numa guerra de ódio, em que aqueles valores mais caros, conquistados à duras custas por um República progressista e democrática, estavam agora em jogo com o golpe militar de Franco. Mas então não era apenas uma questão política espanhola, era muito mais do que isso. Era um conflito de ideias, de sonhos, de interesses geopolíticos que mobilizavam a Europa e o mundo. E assim, a Espanha se colocava como mais um importante ator, no grande front da acirrada luta entre os ideais nazi-fascistas - que pululavam pela Europa - e as correntes anti-fascistas (que em alguns países formaram a Frente Popular), que tinham como fim, frear a ascensão de governos de caráter pró fascistas. Estes, no entanto, congregavam uma infinidade de ideias e correntes políticas (que de outra forma jamais se uniriam), que não eram mais do que uma grande salada de ideologias; onde muitas vezes, só havia em comum a luta contra as forças nazi-fascistas (exemplo disso, são as violentas lutas intestinas ocorridas entre comunistas e anarquistas no decorrer da sangrenta guerra). Mais tarde as diferenças acabaram falando mais alto, e o que era para ser uma luta unida contra as forças franquistas, transformou-se simultâneamente, num triste embate entre os próprios defensores da República.
Enfim, para os contemporâneos dessa guerra, para aqueles que de diferentes países abraçaram com obstinação a causa da República e pegaram em armas; a Espanha representava, acima de tudo, a luta pela sobrevivência da própria humanidade, a luta em nome de valores como a liberdade e a justiça. E a derrota representava, não apenas a derrota dos republicanos espanhóis, mas também, a derrota de todos aqueles, independente do país, que acreditavam e lutavam pelos ideais defendidos por aquela fugaz República, covardemente atacada.

Pretendo continuar a escrever sobre o assunto, numa série de posts (que inauguro com este), onde a intenção é falar sobre questões pontuais como personagens marcantes e episódios relevantes ou curiosos desse momento tão marcante para a história da Espanha e do mundo. Esperem os próximos capítulos.
Continue lendo >>